Suponha que você tenha dois objetos em temperaturas
diferentes. Pode ser que seja possível avaliar qual está
numa temperatura mais elevada utilizando o tato. Essa seria uma
avaliação qualitativa do problema.
Mas muitas vezes, é importante avaliar quantitativamente
uma situação, medindo a temperatura dos objetos em
questão.
De uma forma geral, a temperatura é definida como um parâmetro
físico (uma função de estado) descritivo de
um sistema que vulgarmente se associa às noções
de frio e calor, bem como às transferências de energia
térmica, mas que se poderia definir, mais exatamente, sob
um ponto de vista microscópico, como a medida da energia
cinética associada ao movimento (vibração)
aleatório das partículas que compõem um dado
sistema físico. Podemos medi-la com o auxílio de um
termômetro.
O termômetro indica a variação de temperatura
do sistema.
2. O QUE É CALOR?
Calor é uma forma de energia em trânsito.
Ela aparece quando existe uma diferença de temperatura entre
dois corpos. Portanto, o calor é medido nas unidades usuais
de energia, como o Joule (J) ou caloria (cal) e os seus múltiplos.
1 cal = 4,186 J (1)
Devemos evitar a confusão entre os conceitos de
temperatura e de calor.
Eles estão relacionados, mas não são a mesma
coisa.
3. MUDANÇAS DE FASE
As substâncias apresentam-se na natureza
em diferentes estados
físicos. Podemos considerar como os estados mais
comuns na natureza: sólido, líquido e gasoso. Em estudos
mais avançados da Física, são também
estudados o plasma
e o condensado
de Bose-Einstein.
Esses estados de agregação são, basicamente,
dependentes da pressão e da temperatura da substância
e podem ser alterados.
Esse fenômeno pode ser explicado do ponto de vista atômico:
com o aumento da temperatura, aumentam as vibrações
atômicas. Isso provoca um aumento das distâncias interatômicas
e, por consequência, diminuem as forças de atração
entre os átomos. Quando uma substância no estado sólido,
por exemplo, atinge a sua temperatura de fusão, as ligações
da rede cristalina se rompem e ele passa para o estado líquido.
Portanto, uma substância pode mudar de fase através
do recebimento ou da retirada de calor.
Como cada substância apresenta estrutura atômica própria,
cada uma apresenta seu próprio comportamento físico-químico
e tem seus pontos de fusão e vaporização característicos.
A água, por exemplo, considerada na pressão de 1 atmosfera,
tem ponto de fusão em 0oC e ponto de vaporização
a 100oC (Figura 1).
Figura 1: O diagrama mostra a nomenclatura utilizada
para definir as transições entre as fases sólida,
líquida e gasosa das substâncias.
4. CAPACIDADE TÉRMICA
Suponha que estamos fornecendo a mesma quantidade
de calor a dois corpos, compostos por substâncias diferentes.
Depois de um certo tempo, cada um apresentará um incremento
de temperatura diferenciado. Essa situação evidencia
que diferentes substâncias possuem diferentes comportamentos
térmicos. Mesmo que os corpos sejam feitos de um mesmo material,
eles podem ter capacidades térmicas diferentes, desde que
suas massas sejam diferentes.
Para definir isso, apresenta-se a grandeza capacidade térmica
(C) como sendo:
C = DQ / Dt (2)
Podemos observar pela relação que quanto maior for
a capacidade térmica do corpo, maior deverá ser a
quantidade de calor a ser fornecida para provocar uma determinada
elevação de temperatura da substância.
5. CALOR ESPECÍFICO
Já vimos que a capacidade térmica varia de uma substância
para outra. Mas quando trabalhamos com um mesmo material as capacidades
térmicas podem ser diferentes se cada conjunto tiver uma
massa diferente.
Entretanto, o quociente C/m é constante para cada material
e é esse valor que denominamos de calor específico.
c = C / m (3)
Portanto, o calor específico é uma
característica absoluta de cada substância.
Observe a unidade de medida na tabela abaixo: ela indica que, para
elevarmos a temperatura de 1 grama daquela substância em 1oC,
devemos fornecer uma determinada quantidade de calor. Por exemplo,
para elevar em um grau a massa de um grama de água, precisamos
fornecer 1 caloria para a substância. O calor específico
também poderia ser dado em J/kgoC.
Para massas de água,
que tem calor específico relativamente alto, observamos a
ocorrência de diversos fenômenos relacionados ao clima.
Mares, lagos e rios, que concentram grande quantidade de água,
acabam regulando a temperatura nas suas regiões de entorno.
Durante o dia, a água absorve grande quantidade de calor,
mas aquece-se pouco. Quando anoitece, ela libera calor para o entorno,
esfriando devagar. Uma consequência disso é que locais
próximos aos mares e lagos tendem a ter pequena amplitude
térmica (diferença entre a temperatura máxima
do dia e mínima da noite). Isso é verificado, por
exemplo, nas cidades do litoral brasileiro. Também a direção
das brisas costeiras é definida a partir da contribuição
desse fenômeno.
6. CALOR SENSÍVEL
E CALOR LATENTE
O fornecimento ou a retirada de calor, como forma de energia para
um corpo, resulta em dois fenômenos possíveis: variação
na temperatura ou mudança de fase.
Denominamos calor sensível a quantidade de calor
recebida ou cedida para um corpo que resulta em variação
da temperatura do mesmo, sem mudança de fase. Por exemplo,
ao aquecermos água em uma panela de 30oC até
60oC, estamos lidando apenas com calor sensível,
pois nesse intervalo de temperaturas, a água não muda
de fase.
Quando o corpo sofre apenas uma mudança de fase, denominamos
o calor responsável por essa mudança de calor latente.
Durante esse processo, a substância não varia de temperatura.
No caso da água, nota-se experimentalmente que, para transformar
uma massa de 1 grama de gelo a 0oC em água a 0oC,
ou seja, completar a fusão do gelo, é necessário
fornecer 80 cal.
Da mesma forma, para transformar 1 grama de água a 100oC
em vapor de água a 100oC, são precisos
540 calorias.
Cada substância tem seus valores próprios nessas transições
de fase. Para determinarmos o calor latente (L) de cada substância,
podemos fazer:
L = Q / m ® Q = m . L (4)
Observe os valores de calor latente para a água:
Vamos tomar como exemplo o calor latente de fusão
do gelo, que é igual a 80 cal/g. Isso quer dizer que cada
grama de gelo (1 grama de gelo) necessita receber 80 calorias para
mudar seu estado físico, passando de gelo a 0oC
para água a 0oC. Essa é a lógica
que rege a indicação de valores para a tabela de calor
latente vista acima, e cada substância terá seus valores
específicos.
Os valores de calor latente (do gelo e água)
e de calor específico da água (como já vimos)
são importantes para entendermos os fenômenos macro
e microclimáticos, uma vez que a água de oceanos,
rios, lagos e geleiras são fundamentais para a regulação
do
clima do planeta. Aumentos nas temperaturas médias
em determinadas regiões provocam, por exemplo, a fusão
do gelo dos polos e das geleiras, alterando o nível dos mares
e o equilíbrio do ecossistema (Figura 2).
Figura 2: O aquecimento global pode ser o principal
fator que vem contribuindo para a diminuição de gelo
nos polos e das geleiras.
7. EQUAÇÃO
FUNDAMENTAL DA CALORIMETRIA
Experimentalmente, mostra-se que a quantidade de calor fornecida
a um corpo relaciona-se com a massa (m) e com a variação
de temperatura sofrida pela substância (Dt
= tfinal - tinicial), a menos de uma constante,
que é o calor específico da substância (c).
Q = m . c . Dt (5)
Nas situações em que a temperatura
final é maior do que a temperatura inicial, temos Q positivo,
pois houve fornecimento de calor. Quando ocorre um resfriamento
da substância, o sinal de Q será negativo.
8. CURVAS
DE AQUECIMENTO E RESFRIAMENTO
Podemos grafar o que ocorre com uma substância conforme ela
recebe ou perde calor num diagrama de temperatura em função
da quantidade de calor.
Os patamares do gráfico correspondem às mudanças
de fase, que envolvem calor latente. (Figura 3).
Figura 3: Curva de aquecimento
para uma substância genérica.
Entendemos o calor como sendo uma forma
de energia. Ele pode ser transferido de um corpo para
outro em situações em que existam diferenças
de temperatura entre os corpos envolvidos. Portanto, o conceito
moderno de calor pode ser compreendido como uma forma de energia
em trânsito.
Essa ideia de calor como energia foi introduzida pelo Conde Rumford
(1753-1814), ao estudar o aquecimento de peças metálicas
que eram perfuradas para produzir munição para canhões.
Em 1798, ele elaborou a teoria que afirmava que a energia empregada
no trabalho de perfuração era transferida para as
peças, provocando o aumento de temperatura observado.
A partir dos estudos de Rumford e a posterior consolidação
da Termodinâmica como área de estudo e aplicação
da Física, ficou definido que o grau de agitação
molecular de um corpo define a quantidade de energia interna dele
e, a partir daí, qualificamos o conceito de temperatura de
um corpo ou sistema, diferenciando-o do conceito de calor(Figura
4).
Figura 4: T1 > T2: O corpo
de temperatura maior (T1) transfere calor para o corpo
de temperatura menor (T2).
10. POTÊNCIA
DE UMA FONTE DE CALOR
Como o calor é uma forma de energia, podemos dizer que as
fontes de calor são corpos ou sistemas termodinâmicos
(como o Sol) capazes de transferir calor para outros corpos ou sistemas.
Partindo do princípio que o calor é uma forma de energia,
então é possível definir também a potência
térmica (P) de uma fonte de calor, que é
dada por:
P = Energia / tempo P = E / t (6)
Usualmente, essa potência é expressa
em joules por segundo (J/s = watt = W), mas também podemos
utilizar outras unidades, como calorias por segundo (cal/s).
Lembre que: 1 cal = 4,18 J
1 W = 1 J/s (7)
Lâmpadas incandescentes, aquecedores e outros
objetos emitem calor para o meio e são fontes de calor significativas.
Note que também o corpo humano pode ser considerado uma fonte
de calor, pois nosso metabolismo mantém a temperatura do
corpo em 37oC. Por conta disso, usamos roupas leves e
claras em locais quentes e ensolarados e preferimos materiais isolantes
(como roupas e cobertores de lã) em dias mais frios, para
minimizar a perda de calor de nosso corpo para o meio externo.
11. PROCESSOS DE TRANSMISSÃO
DE CALOR
11.1 Condução
É o tipo de transmissão de calor
que ocorre por contato. Como no caso que vemos na animação,
o calor da chama aquece a extremidade esquerda da barrinha metálica,
fazendo com que os átomos ou moléculas do metal nessa
extremidade tenham maior grau de agitação. Uma parte
dessa energia é transferida por contato para moléculas
vizinhas, fazendo com que o calor se propague em direção
à extremidade direita e chegue até a mão da
pessoa, que sente um progressivo aumento de temperatura no local
em que está segurando.
Esse é o processo mais comum de transmissão que vemos
no nosso cotidiano. Materiais compostos por metais são bons
condutores de calor. Por isso as panelas são feitas de alumínio.
Já materiais como a madeira, o ar, o isopor, a lã
e a cortiça conduzem mal o calor e por isso podem ser utilizados
como isolantes térmicos.
11.2 Convecção
Trata-se de um tipo de transferência de calor que ocorre em
líquidos e gases (fluidos). Ela acontece com a formação
de correntes de convecção, que aparecem a partir da
diferença de densidade entre as partes quentes e frias dos
líquidos envolvidos. É o caso da panela com a água
que se movimenta conforme aquecida. Ocorre que a água que
está no fundo da panela se aquece primeiro, por condução,
a partir do calor da chama em contato com o metal da panela. Depois,
essa massa, que está mais quente e menos densa, tende a subir,
empurrando a água fria para baixo e começando o movimento
de convecção.
Nas geladeiras,
o resfriamento dos alimentos é feito por meio das correntes
de convecção de ar dentro da geladeira. Como o ar
quente é menos denso do que o ar frio, ele tende a subir
dentro do compartimento, enquanto o ar mais frio que está
em contato com o congelador desce, formando a corrente e facilitando
o resfriamento uniforme dos alimentos (Figura 5).
Figura 5:As geladeiras são projetadas
para que se formem correntes de convecção, de modo
que o ar frio desça e circule pelos compartimentos inferiores.
Também os fenômenos climáticos dependem dos
movimentos de convecção de massas de ar na atmosfera:
ventos, movimentos de frentes climáticas etc.
11.3 Irradiação
A irradiação ocorre através de ondas eletromagnéticas
(faixa do infravermelho), que pode se propagar no vácuo.
O calor que chega até a Terra, emitido pelo Sol, é
um exemplo desse tipo de transmissão, já que entre
a estrela e a Terra praticamente não há matéria(Figura
6).
Figura 6: O Sol é uma estrela que produz
energia a partir de reações termonucleares. Com isso,
é capaz de fornecer energia para o nosso sistema solar e
para o planeta Terra, incluindo a energia térmica (calor)
que sustenta a vida.
A constante solar representa a potência do
Sol por unidade de área diretamente exposta à luz
solar. A constante solar é igual a, aproximadamente, 1368
W/m2.
O calor da fogueira que aquece as pessoas em volta também
pode ser considerado propagação por irradiação,
pois as moléculas de ar existentes exercem um papel praticamente
nulo no processo. Existem aplicações tecnológicas
que aproveitam o fenômeno da irradiação: o aquecedor
solar instalado em telhados absorve energia solar incidente e aquece
a água utilizada por uma residência ou indústria
(por condução), gerando economia de energia elétrica(Figura
7).
Figura 7: Observe a animação que apresenta exemplos
dos três tipos de propagação do calor numa única
situação.
Fonte: www.brasilescola.com
12. APLICAÇÕES
TECNOLÓGICAS
As aplicações dos estudos da propagação
do calor são muitas e vão da construção
de utensílios ao projeto de máquinas diversas, aviões,
motores e estudos aplicados, como os da meteorologia. Entre essas
aplicações tecnológicas, vale citar uma que
conhecemos em nosso dia a dia: a garrafa
térmica.
O recipiente tem o objetivo de minimizar as trocas térmicas
entre o líquido e o meio externo. Assim, podemos manter tanto
um café quente como um suco gelado preservado por mais tempo.
Isso é obtido dificultando os três tipos de transmissão
de calor. A ampola é feita com duas paredes espelhadas de
vidro com ar rarefeito entre elas. Isso retarda o processo de irradiação
e evita a condução e a convecção. A
ampola é protegida por um invólucro exterior, que
pode ser de metal ou plástico. Essas paredes também
são espelhadas tanto no lado de fora quanto no de dentro.
O conjunto é completado com uma tampa de pressão ou
rosca que veda a parte superior do recipiente (Figura 8).
Figura 8: Garrafa térmica.
Também podemos observar a aplicação
destes estudos na engenharia. Na construção de casas,
por exemplo, os materiais escolhidos devem estar de acordo com o
que se quer obter. Nos telhados, o uso de materiais isolantes térmicos
pode auxiliar a reter o calor no interior da casa (em regiões
frias) ou a refletir parte da luz incidente (com o uso de tons claros
no telhado e na pintura externa) para evitar aquecimento indesejável
(em regiões tropicais).
Paredes e janelas também são responsáveis por
parte das perdas de calor e podem ser projetadas para minimizar
as perdas para o meio nas situações em que a casa
necessita com frequência de aquecimento elétrico ou
solar, minimizando assim o consumo de energia pelos moradores: uma
opção é fazer lajes e paredes mais espessas
e usar material isolante na construção delas.
Já nas regiões frias, grandes áreas envidraçadas
em camada dupla de vidro (com ar no "recheio" como isolante)
podem ajudar a iluminar melhor o ambiente e a permitir a entrada
de luz solar, provocando um efeito semelhante ao efeito estufa e
ajudando também a evitar a necessidade de gastos excessivos
no processo de aquecimento elétrico.