T E O R I A     (Referencial Físico Matemático)
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1. O PRINCÍPIO DA INCERTEZA


A natureza dual, ondulatória e corpuscular da matéria conduziu a física para uma nova forma de descrição da realidade: estamos falando dos primórdios da Física Quântica!

Dizemos que a Física Clássica é determinística, pois se a posição e velocidade inicial de uma partícula e as forças que atuam sobre ela são conhecidas, o movimento resultante está definido pelas Leis de Newton, isto é, o futuro da partícula está determinado. É dessa forma que há muitos anos estamos prevendo o comportamento dos astros que nos rodeiam como a Lua, por exemplo. Porém, isso não é verdade na Física Quântica, ou seja, no mundo das partículas elementares. Imagine um microscópio hipotético usado para observar o elétron em suas órbitas. Para observá-lo, é necessário incidir luz sobre ele, um feixe de fótons. Ao colidir com o elétron, o fóton transfere momento (quantidade de movimento p = m.v) de modo que o recuo do elétron o retira da sua posição original. Se não sabemos sua posição original, como poderemos determinar as futuras posições?

Na Física Clássica, não nos preocupamos com esse aspecto. Veja o caso da Lua: apesar de a luz do Sol que a ilumina transferir momento, esse efeito é tão pequeno que não percebemos. Ao medir a posição da Lua, incidindo um poderoso feixe de laser no espelho deixado pelos astronautas que lá estiveram, seu recuo é desprezível.

Voltemos ao elétron e vamos abordar o problema da medição de sua posição usando a natureza dual: se sua descrição é feita, às vezes, como partícula e, às vezes, como onda, é possível saber exatamente onde ele está num determinado instante? Como é possível se uma onda se estende através de uma região do espaço?

Para expressar a incapacidade de descrever a posição correta do elétron, Heisenberg enunciou o Princípio da Incerteza em 1927:

Uma experiência não pode determinar simultaneamente o valor exato de uma determinada componente do momento linear de uma partícula e o valor exato da componente correspondente da sua posição com precisão melhor do que:



          (1)

onde Dpx é a incerteza na determinação do momento linear da partícula, Dx é a incerteza na posição e h é a constante de Planck (existem equações semelhantes para as coordenadas y e z).

 

O microscópio hipotético usado para determinar a posição e a velocidade do elétron simultaneamente está descrito na figura 1 a seguir.



Figura 1: Microscópio hipotético para observar um elétron.

Fonte: http://plato.if.usp.br/~fnc0311n/anexos/AulaMarciaRizzutto.pdf .

 

O poder de resolução de um microscópio é dado aproximadamente por:

          (2)


onde Dx é a distância entre dois pontos que podem ser distinguidos pelo microscópio, l é comprimento de onda da luz e q é a metade do ângulo da lente usada. Quando o fóton interage com o elétron, a incerteza em sua posição é Dx. Para que esse valor seja o menor possível, o comprimento de onda deve ser muito pequeno: fótons de raios gama, por exemplo. Como o fóton transfere momento ao elétron na colisão, a variação do momento do fóton por causa do Efeito Compton é

          (3)

 

e que corresponde à incerteza no momento transferido ao elétron já que o fóton desviado pode entrar na lente do microscópio em qualquer posição dentro do ângulo q (veja a figura 2).

Veja o que ocorre ao fóton e ao elétron na animação:

Figura 2: Lente de microscópico em qualquer posição

Então:           (4)

O Princípio da Incerteza é uma consequência da natureza dual da matéria. Se uma partícula encontra-se em uma região com incerteza Dx, então seu comprimento de onda natural deve ser menor que Dx (veja a parte superior da figura 1), o que requer um momento elevado, pois

          (5)

 

O momento p deve variar entre -h/Dx e h/Dx. O raciocínio é análogo para a incerteza do momento.

Heisenberg demonstrou que é possível conhecer alguns dados sobre um sistema com grande precisão, mas outros se tornarão cada vez mais imprecisos. Ao se medir com boa precisão a posição de uma partícula, por exemplo, haverá uma perturbação de sua quantidade de movimento e vice-versa. O ato de medir sua posição inicial interfere no restante do seu comportamento!
Essa impossibilidade de prever os fenômenos não é considerada uma simples deficiência experimental e sim que seja inerente à própria natureza.


Podemos ainda imaginar que para localizar o elétron, podemos construir uma fenda tão estreita quanto o seu diâmetro. No entanto, o que deve acontecer quando o elétron passar por esta fenda que tem dimensões da ordem de grandeza de seu raio clássico (10-15 m)? Quando o elétron passar pela fenda, o que essa interação elétron-fenda deverá acarretar? Teremos uma difração da onda e uma figura de interferência como resultado na tela de observação.

O experimento de difração de elétrons realizado em 1927, por Davisson e Germer (USA) e G. P. Thomson (Escócia), que consiste em incidir um feixe de elétrons num cristal de modo que o atravesse como se as distâncias interatômicas correspondessem a fendas, nos mostra o comportamento dual (onda-partícula) do elétron.
G. P. Thomson realizou difração de elétrons numa fina folha de ouro. Elétrons eram produzidos pelo aquecimento de um filamento e acelerados por uma diferença de potencial. Assim eles incidiam sobre o filme cristalino e sofriam a difração, de acordo com o esquema mostrado na figura 3.

 


Fig. 3 Esquema do método de G. P. Thomson para obter a Difração de elétrons. Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-73132007000100007&script=sci_arttext

A figura 4 mostra o padrão de difração obtido. As franjas claras e escuras obtidas em forma de anéis são conseqüência das interferências construtivas e destrutivas das ondas associadas aos elétrons.

Fig. 4. Difração de elétrons em cristais de ouro. Fonte: Eisberg, REsnick, Física Quântica, Ed Campus.

 

Ao passar pela "fenda" o elétron ganha uma quantidade de movimento na componente y de velocidade, isto é, uma incerteza Dp em sua quantidade de movimento (figura 5).

 

Figura 5: Quando um elétron atravessa uma fenda, ocorre difração, obtendo-se um padrão de interferência na tela que depende da relação entre o comprimento de onda associado e a largura da fenda.

Fonte: Cavalcante e Tavolaro, 2007.

 

E novamente há uma incerteza Dx em sua posição, pois:

          (6)



ou ainda:

            (7)

e então:

                 (8)

 

Resumidamente, pode-se dizer que quanto maior a precisão com a qual se mede uma grandeza, forçosamente mais será imprecisa a medida da grandeza correspondente. Grandezas correlacionadas pelo principio da incerteza são chamadas de grandezas canonicamente conjugadas. Como exemplo de grandezas canonicamente conjugadas temos: posição e velocidade (ou momento linear) e energia e tempo.

Perceba a sutileza deste mundo microscópico (figura 6): num mesmo experimento, não podemos provar simultaneamente o comportamento corpuscular e ondulatório sem perturbar o sistema!

 

 

Figura 6: Eis a diferença entre o mundo macroscópico onde vivemos e o mundo das partículas elementares: partículas grandes apresentam incerteza desprezível em sua posição.

Fonte: http://bp2.blogger.com/_U2GTk2CGYEo/SJS6oedbuZI/AAAAAAAAAJU/5af4QXYzlgo/s1600-h/incerteza.jpg


1.1 Um mundo de incertezas

"O Princípio da Incerteza tem implicações profundas na forma como vemos o mundo. É impossível prever acontecimentos futuros com precisão, dado não ser possível medir com precisão o estado do Universo. A Mecânica Quântica prevê vários resultados possíveis para uma observação, cada um com a sua probabilidade e, portanto, informa-nos acerca das probabilidades de cada um dos futuros estados possíveis do mundo."

(Retirado de http://www.dsc.ufcg.edu.br/~gmcc/mq/incerteza.html).