Em 1905,
Albert Einstein sugeriu que a luz exibe um comportamento corpuscular
ao propor a teoria que explica o Efeito Fotoelétrico.
O fóton de luz é um pacote de energia de valor
h.f,
onde h
é a constante de Planck ef é a frequência
da onda luminosa correspondente. Ou seja, a natureza ondulatória
não foi abandonada, ao contrário, a luz apresenta
natureza dual, isto é, ora comporta-se como onda em
experimentos de difração, interferência
e polarização, mas comporta-se como partícula
ao arrancar elétrons de um metal.
Da energia do fóton
(1)
e da equação da energia relativística de Einstein
(2)
e ainda considerando que o fóton não
existe em repouso, isto é, sua massa de repouso é
nula, mo=
0, temos
ou
(3)
A expressão mostra o momento associado ao fóton.
O comprimento de onda da onda associada ao seu movimento é
(4)
Em 1924, Luiz De Broglie propôs a existência
de ondas de matéria, ou seja, o caráter dual não
era somente uma característica da luz. Por simetria, De Broglie
postulou que uma partícula de matéria tem uma onda
associada ao seu movimento tal que
(5)
onde lDB
é o comprimento de onda de De Broglie de uma onda de matéria
associada ao movimento de uma partícula material que tem
momento p.
As idéias de De Broglie não tinham
evidências experimentais na época. Cerca de cinco anos
mais tarde, a quantidade de resultados de experiências motivadas
por suas ideias e que confirmavam as hipóteses era tão
grande que ele ganhou o Prêmio Nobel de Física.
Mas qual o tipo de experimento poderia evidenciar o caráter
ondulatório da matéria? Para discutir essa questão,
vamos calcular o comprimento de onda de De Broglie de algumas partículas.
Imagine um objeto de massa de 1 kg com velocidade v=10 m/s. O comprimento
de onda da onda associada ao seu movimento será
Esse comprimento de onda é tão pequeno
que não pode interagir com nenhum sistema conhecido, redes
de difração, por exemplo. É impossível
evidenciar o caráter ondulatório nesse caso. Porém,
imagine agora elétrons que possuem massa 9,1 x 10-31
kg com uma energia de 100 eV (1 eV é a energia adquirida
por um elétron quando acelerado por uma ddp de 1V).
(6)
Esse comprimento de onda, da ordem de 1Ao
(1 angstron=10-10 m), é próximo ao comprimento
de onda de raios X. Por volta de 1912, Max
von Laue elaborou um experimento para realizar difração
de raios X, utilizando uma estrutura cristalina como rede de difração
tridimensional. Logo depois William
Henry Bragg e seu filho William
Lawrence Bragg demonstraram a relação que
passou a ser conhecida como Lei de Bragg, fundamental para o estudo
de estruturas cristalinas com o uso da difração de
raios X.
1.1
Difração de elétrons
A
difração de raios X em cristais permitia determinar
a distância entre diferentes planos interatômicos de
acordo com a Lei de Bragg. Cristais são estruturas caracterizadas
por um arranjo periódico e bem ordenado de seus componentes.
A figura 1 mostra a regularidade dos átomos dispostos num
cristal e a figura 2 mostra o caminho das ondas de raios X.
A Lei de Bragg exprime o fenômeno de interferência
construtiva entre ondas que são refletidas por uma rede cristalina
e tem uma diferença de caminho ótico igual a um múltiplo
inteiro N
de l. A distância d entre os planos interatômicos pode ser
determinada se l é conhecido.
A figura 3 é uma foto do resultado obtido quando um feixe
de raios X atravessa uma fina folha de ZrO2 (óxido
de zircônio). Os anéis claros são resultantes
das interferências construtivas das ondas de raios X.
Figura 3 - Difração de Raios X em
cristais de óxido de zircônio. Fonte: Eisberg e Resnick,
1994
Em 1927, Davisson
e Germer (USA) e G.
P. Thomson (Escócia) basearam se nos experimentos
de difração de raios X para realizar a difração
de elétrons e ganharam o Prêmio Nobel de Física
em 1937. Vamos estudar o experimento de difração de
G. P. Thomson.
G. P. Thomson realizou difração de elétrons
numa fina folha de ouro. Elétrons eram produzidos pelo aquecimento
de um filamento e acelerados por uma diferença de potencial.
Assim eles incidiam sobre o filme cristalino e sofriam a difração,
de acordo com o esquema mostrado na figura 4.
A figura 5 mostra o resultado obtido. A formação
do padrão de difração, isto é, a produção
de anéis de interferência construtiva e a coincidência
entre o comprimento de onda previsto pela Lei de Bragg por meio
da hipótese de De Broglie comprovaram a hipótese da
natureza ondulatória dos elétrons. (DIFRAÇÃO...,
2009).
Figura 5 - Difração de elétrons
em cristais de ouro.
Fonte: Eisberg e Resnick, 1994
Por meio da medição do raio do anel
de interferência, foi possível determinar as distâncias
interatômicas conhecidas de cristais tais como a grafite.
No esquema a seguir, r é o raio do anel e l é a distância
entre o cristal e a tela de projeção. (ESTRUTURA...,2009).
Figura 6: Relação entre o raio do
anel e a distância interatômica do cristal.
Fonte: Cavalcante e Tavolaro (2007).
Da figura 6 temos: (8)
Como o ângulo a
é bem menor que 10o , podemos dizer que r'r,
onde r corresponde ao valor do
raio medido diretamente na ampola. Por outro lado, temos que sen2a
= 2sena cosa, para ângulos
pequenos, podemos fazer a aproximação cosa
1 e assim;
(9)
Na figura 2, vimos que o ângulo a corresponde
ao ângulo 2q
da Lei de Bragg. Substituindo, teremos:
(10)
como a=2q
teremos:
(11)
Para as condições estabelecidas (da
montagem), temos q
menor que 50 e isto permite aproximar a relação acima
na seguinte expressão:
(12)
mas de acordo com a Lei de Bragg:
Então:
(13)
Logo, a distância interatômica pode ser
determinada se l é conhecido
e r
é medido experimentalmente, pois
(14)
A partir da constatação da difração
dos elétrons e, mais tarde, de prótons e nêutrons
(apesar de serem bem mais massivos do que o elétron e por
isso mais difícil a observação do comportamento
ondulatório), concluiu-se que todas as partículas
de matéria têm comportamento dual. Neils Bohr, que
já havia utilizado o comportamento dual da radiação
eletromagnética em seu modelo atômico, generalizou
o conceito de dualidade através do Princípio
da Correspondência:
"Os modelos corpuscular e ondulatório são complementares.
Se uma medida prova o caráter ondulatório da radiação
ou da matéria, então é impossível provar
o caráter corpuscular na mesma medida. A compreensão
da radiação e da matéria só é
completa se levamos em consideração experimentos que
provém tanto o caráter ondulatório quanto o
caráter corpuscular."
A dualidade impulsionou o desenvolvimento da Física Quântica
já que a mecânica determinística de Newton e
o eletromagnetismo de Maxwell não conseguiam mais explicar
o comportamento das entidades físicas microscópicas.