De acordo
com a Lei da radiação de Kirchhoff, se um corpo
puder absorver toda a radiação incidente sobre
ele, então emitirá toda a radiação
por ele gerada. Este corpo ideal é conhecido como corpo
negro. Uma boa aproximação para um
corpo negro é obtida num forno de paredes internas
enegrecidas, com um pequeno orifício por onde a radiação
gerada é emitida. A análise dessa radiação
é feita através de um espectrômetro, como
mostra a figura 1 a seguir, medindo a intensidade da radiação
para cada comprimento de onda do espectro contínuo
emitido.
Figura 1 - Equipamento para a análise da radiação
emitida por um corpo negro.
No final do século XIX, muitos cientistas estavam preocupados
em explicar porque os espectros dos corpos negros são tão
parecidos com os espectros emitidos por corpos aquecidos, tais como
o filamento de uma lâmpada, isto é, porque todos esses
espectros dependiam da temperatura do corpo. A figura a seguir mostra
as curvas da intensidade da radiação do corpo negro
em função do comprimento de onda para diferentes temperaturas.
(Figura 2)
Essas curvas, e também as
curvas obtidas para corpos aquecidos não negros, apresentam
outras propriedades que ficaram conhecidas como Leis de Stefan-Boltzmann
e Wien.
1.1
LEI DE STEFAN-BOLTZMANN
A partir dos resultados
experimentais obteve-se a relação entre a potência
total irradiada por um corpo negro para todos os comprimentos de
onda, a área da superfície emissora e a temperatura
absoluta. Essa relação empírica é dada
por :
Esta função expressa que a Intensidade
total da radiação emitida é proporcional à
quarta potência da temperatura de equilíbrio térmico
do corpo, onde s é uma constante universal conhecida por
constante de Stefan-Boltzmann, cujo valor é:
Para um corpo aquecido qualquer, tal qual o filamento de uma lâmpada,
multiplica-se a expressão da Lei de Stefan-Boltzmann pela constante
e, correspondente à emissividade.
1.2
LEI DE DESLOCAMENTO DE WIEN
O ponto
máximo da curva I x l, vista acima,
se desloca de acordo com a seguinte expressão:
Pela expressão acima se depreende que o pico da
curva se desloca de modo que lmax
diminui quando a temperatura aumenta, onde b é uma constante
cujo valor é:
Para explicar esses resultados, os cientistas utilizavam o
modelo dos osciladores, no qual se entende que a radiação
térmica é constituída por ondas eletromagnéticas
emitidas devido à agitação térmica
(teoria
eletromagnética clássica de Maxwell).
Por esse motivo, a radiação térmica dependeria
da temperatura do corpo, isto é, um aumento na temperatura
provocaria o aumento da amplitude de oscilação
das partículas. As ondas eletromagnéticas emitidas
teriam mais energia, que poderia variar dentro de uma faixa
contínua de valores, e por isso o espectro de emissão
seria contínuo, contendo todos os comprimentos de onda
do espectro contínuo. Porém, as equações
obtidas a partir desse modelo levaram a uma curva teórica
que coincidia com os resultados experimentais apenas para
os comprimentos de onda longos, na região do infravermelho.
A discordância na região de comprimentos de onda
curtos ficou conhecida como catástrofe do ultravioleta.
A figura a seguir mostra o resultado experimental e a tentativa
fracassada de reproduzi-lo.
Em 1900, Max Planck estudou detalhadamente os espectros obtidos
a partir de altos fornos de siderúrgica na Alemanha e conseguiu
resolver o problema. Na verdade, Planck introduziu um postulado
no modelo dos osciladores, isto é, o conceito introduzido
não era consequente de nenhuma lei até então
conhecida.
De acordo com o postulado, os osciladores não poderiam oscilar
com qualquer valor de energia, ou seja, não poderiam variar
sua energia continuamente entre zero e um valor máximo. Planck
postulou que existiria um valor mínimo para a energia que
seria absorvida ou emitida pelo corpo negro. Esse valor foi denominado
quantum
de energia que, por sua vez, é proporcional à frequência
de oscilação:
onde h é uma constante de proporcionalidade, que ficou conhecida
por constante de Planck. A energia total dos osciladores era obtida
a partir da soma desses quanta,
ou seja:
O próximo passo foi relacionar as energias
dos osciladores com as ondas eletromagnéticas emitidas pelo
corpo negro: se a energia dos osciladores é quantizada, então,
a energia das ondas emitidas também é. Ao calcular
a energia total das ondas emitidas, Planck obteve uma equação
cujos resultados coincidem com os resultados experimentais quando
a constante h assume um valor correspondente a:
1.3.1
Interpretação da quantização de energia
de Planck
O resultado obtido por Planck, apesar de estar de acordo com os
resultados experimentais para a radiação do corpo
negro, deveria ser aplicado a qualquer tipo de oscilador e isso
contrariava leis até então indiscutivelmente válidas:
as Leis de Newton, que permitiam que a energia assumisse qualquer
valor.
Porém, o que o postulado de Planck sugere é que a
natureza, que sempre utiliza energia na menor quantidade possível,
não pode utilizar uma quantidade infinitamente pequena. Essa
energia tem um valor mínimo imposto pela constante h. Por
isso não é possível observar variações
tão pequenas de energia no mundo macroscópico.
O valor 6,63 x 10 -34 é muito
pequeno para ser multiplicado pelas frequências de oscilação
de corpos grandes, resultando em valores de energia imensuráveis.
Somente no mundo microscópico, isto é, para partículas
elementares como os elétrons, que podem oscilar em altíssimas
frequências, é possível obter resultados de
variações de energia mensuráveis!
Segundo essa idéia revolucionária, a luz emitida pelo
Sol ou por uma lâmpada, por exemplo, é constituída
por um enorme número de pacotes de energia, os quanta de
luz, ou fótons.
Cada fóton tem uma energia hv
proporcional à frequência. Um fóton de luz ultravioleta
é cerca de duas vezes mais energético que um fóton
de luz vermelha, já que suas frequências são
aproximadamente 10 x 10 14 Hz e 5 x 10 14
Hz, respectivamente.